domingo, 31 de maio de 2009

Poesia da tarde


Olá!


O sol vai caindo, nessa cristalizada imagem que é o seu pôr, eterno, dia após dia, pelos séculos, amém! É uma imagem que vejo sempre dessa minha janela, que me persegue sempre. É uma hora perigosa, como disse a cantora Maria Bethânia numa entrevista, é como se a natureza mudasse a guarda. Fica um buraco no dia. É como um espanto, o fim da tarde. Um estranho epílogo para esta que é, sem dúvida, a parte mais poética do dia.

Para consolar-nos, só a poesia. E Deus. Ou ambos, como nesse belo poema da Adélia Prado, talvez feito também num fim de tarde:


"Órfã na janela"


Estou com uma saudade de Deus,
uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada me conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe,
meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus,
cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,
querendo um pôster dele no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu todo vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que ele vai,
para a casa onde está meu pai.

(In: "O coração disparado", 1978)



Do Jorge.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ainda sobre Gal...



Olá!


Nesse finzinho de noite, fuçando aqui na net informes sobre a apresentação da Gal e da cantora norte-americana Dionne Warick, descubro o óbvio: Gal continual sendo a Voz. O vídeo (visto pelo Youtube) de "As vitrines", do Chico, mostra essa senhora de 62 anos de idade com uma voz impecável, o claro cristal.

Fiquei emocionado de vê-la tão bem, ela que andava sumida, ela que foi vítima de rumores maledicentes de que sua voz estava indo embora...

Qual nada! Ela esta aí, viva, a Dona da Voz, nossa Gal. Gal Costa do Brasil. Antes de dormir, vou por para tocar "Musa cabocla", música que o Waly Salomão fez pra ela e que é a canção que melhor define Gal, ela que é a "geratriz da canção brasileira". Segue a letra, que fica valendo como poema do dia.



MUSA CABOCLA


Uirapuru canta no seio da mata
Papagaio nenhum solta um pio
Sereia canta sentada na pedra
Marinheiro tonto medra pelo mar


Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela
Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela


Coração pipoca na chapa do braseiro
Sou baunilha, sou lenha que queima
Que queima na porta do formigueiro
E ouriça o pêlo do tamanduá


Mãe matriz da fogosa palavra cantada
Geratriz da canção popular desvairada
Nota mágica no tom mais alto, afinada

Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela
Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela

(Waly Salomão)


Abraço,


Do Jorge.