terça-feira, 14 de dezembro de 2010

De correrias, Caetano, um trio e a inefável beleza


Olá!



Nem direi que sumi, porque já é lugar-comum em novembro-dezembro, essa época mais que atropelada para quem vive em escola e está atulhado em provas-recuperações-trabalhos-conselhos-de-classe-conversas com pais... Ainda mais para quem emendou uma viagem internacional para o início de janeiro (passaporte, malas, roupas, listas, voucher...). Corro contra o tempo, mais do que nunca.

Mas hoje acabei ficando mais zen. Fui ouvir música. Melhor, fui fuçar música na internet. Frequento um blog que disponibiliza bons discos de música brasileira, geralmente fora de catálogo ou então pouco divulgados, o umquetenha.org. Sempre tenho gratas surpresas por lá. Reencontros, descobertas, pérolas que meu ouvido abserve com avidez. E hoje. Hoje baixei um disco que me deixou pleno de beleza nesse fim de noite, quase madrugada. Nem consigo parar de ouvi-lo, tal foi a força com que ele se grudou em mim. Trata-se de "Uns Caetanos", do grupo carioca O Tao do Trio, formado pelas belas vozes de Cristina Lemos, Helena Bel e Suzie Franco. O disco, de 2001, passeia pelo cancioneiro do baiano, desfiando canções conhecidas e óbvias (como "Você é linda" e "Baby") ou não tão óbvias assim (como "Jeito de corpo" e "Genipapo absoluto"), sempre com uma delicadeza e uma musicalidade de doer de tão belas. Uma das canções do disco é "Mãe", uma das minhas preferidas (e que a Gal gravou magistralmente nos anos 70) e cuja letra rendeu um capítulo da minha tese, sobre o tema do abandono na literatura e na sempre referencial música do Caê. A letra é densa, pesada, mas na voz das três ganhou um quê de leveza e de sentimento, que nem parece sofrer o eu-lírico que diz "eu canto / grito / corro / rio / e nunca chego a ti". Repeti a música muitas vezes (a estou repetindo agora, enquanto escrevo) e fui para a janela, olhar a noite preta que cai sobre São Mateus, sobre o planeta, sobre mim. Uma pausa na correria, uma salutar pausa, para pensar que, a despeito da dor (de todos nós, por que não dizer), existe beleza. Muita beleza.



MÃE


Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visse não
Imensa solidão

Eu sou um
Rei que não tem fim
Que brilhas dentro aqui

Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração


Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tens amor
Cigarra, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor


Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o teu caminho e o meu caminho
É um nem vais nem vou


Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estais
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs


Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti.
(Caetano Veloso, 1977).



Do Jorge.