Olá!
É alta noite, termino aqui uma coisinhas no computador para poder ir dormir. Não sem antes levar um livro para cama (neste caso, "Paciente particular", um romance policial de P. D. James, meu vício, como sabem). Não sem antes postar também um poema, como hábito (e não sou monge!).
Há algumas semanas, liguei a tevê e num canal qualquer passava uma entrevista com o Ferreira Gullar. Tudo naquele esquema eu-vou-perguntar-o-óbvio-e-você-responde-o-óbvio-também... nem prestei muita antenção. Mas o final. O final me deixou em alfa. O apresentador Sérgio Chapelein (aquele do Globo Repórter) leu (magistralmente, diga-se) o poema "A vida bate", do Gullar, enquanto eram exibidas imagens dos transeuntes pelas ruas do Rio de Janeiro, cidade da América Latina, como diz o texto. Fui às lágrimas. Pensei nele hoje, no texto, e posto aqui para vocês:
A VIDA BATE
Alguns viajam:
vão a Nova York,
a Santiago do Chile.
Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega,
detrás de balcões e de guichês.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas,
a cidade é o refúgio do homem,
pertence a todos e a ninguém.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas.
És Antônio ?
És Francisco ?
És Mariana ?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate.
Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.
vão a Nova York,
a Santiago do Chile.
Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega,
detrás de balcões e de guichês.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas,
a cidade é o refúgio do homem,
pertence a todos e a ninguém.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas.
És Antônio ?
És Francisco ?
És Mariana ?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate.
Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.
(Ferreira Gullar)
A vida bate, também aqui, em São Mateus, poderíamos completar.
Do Jorge.