sábado, 19 de janeiro de 2013

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Olá!


Jorge Luis Borges (sempre ele, meu homônimo) escreveu um conto chamado "As ruínas circulares", no seu talvez mais famoso livro, "Ficções". Anos 40. Precisar não sei e, confesso já, estou com muita preguiça de ir à estante consultar meu ensebado exemplar da antiga Editora Globo de Porto Alegre, que editava as obras do Borges no Brasil - hoje, o passe do argentino pertence à Companhia das Letras, que vem fazendo uma cuidadosa reedição desses textos, tão difíceis de encontrar (uma vez corri a internet atrás de um exemplar de "O Aleph", acabando por me deparar um, assim mesmo no susto, numa banca de livros em Gramado, RS, em 2001, durante um simpósio de História, ô memória). Deus, como tergiverso! Todo esse imbróglio textual (a verborragia, ô Caetano) e, já me esquecia, falava de Borges. Pois bem, Borges escreveu "As ruínas circulares", um conto absolutamente cifrado e que tem um "enredo" bastante simples: um homem, um estrangeiro, chega a um lugar distante e encontra um antigo templo em ruínas, calcinadas pelas chamas e pelo tempo. Ali se deita e ali sonha. Começa a ver, no sonho, coisas caóticas, nascimentos, órgãos, membros: descobre que está a sonhar com a criação de um homem. Excitado, sonha mais e mais, até o homem ficar pronto. Regozija-se. Sente-se um deus. E, como uma cobra que morde o próprio rabo, o homem do seu sonho, agora feito matéria, deixa as ruínas e parte para o mundo, a viajar. Até que, algum tempo depois, chega uma planície onde há um tempo em ruínas, calcinadas pelo fogo e pelo tempo, como as que seu mestre encontrou há tempos. Sentindo-se cansando, ali se deita. E sonha. Sonha com a criação. Com a criação de um novo homem.

Sempre pensei nesse conto como uma metáfora, contrária àquela máxima de Heráclito, "tudo flui", para o eterno retorno. Estamos sempre voltando. A despeito de tudo, de nossos descaminhos, de nosso desejo por liberdade, pelo novo, pelo inédito, voltamos sempre àquilo que deixamos, àquilo que primordialmente somos. Voltar, portanto, é o verbo mais humano. Voltar ao ventre. Ao útero, não à mãe (que também é uma origem, mas não a primeira), mas ao momento mesmo de surgir. De aparecer. Daí pensar na morte como um retorno. Quando não mais estivermos aqui, é porque retornarmos ao ponto de partida. Ao pó de onde, dizem, viemos. E, ao qual, inelutavelmente, voltaremos.



Desconfio que já saibam que tudo isso, esse texto tão difuso, errante mesmo, é para demarcar que, mais uma vez, voltei. A este blog, aos textos, a este repositório dos meus destroços, dos fragmentos de meus dias, de minhas leituras, daquilo que me faz humano. Porque estou sempre voltando. Porque nunca, de fato, fui.


Do Jorge.

2 comentários:

Jorge Verly disse...

Olá!


Jorge Luis Borges (sempre ele, meu homônimo) escreveu um conto chamado "As ruínas circulares", no seu talvez mais famoso livro, "Ficções". Anos 40. Precisar não sei e, confesso já, estou com muita preguiça de ir à estante consultar meu ensebado exemplar da antiga Editora Globo de Porto Alegre, que editava as obras do Borges no Brasil - hoje, o passe do argentino pertence à Companhia das Letras, que vem fazendo uma cuidadosa reedição desses textos, tão difíceis de encontrar (uma vez corri a internet atrás de um exemplar de "O Aleph", acabando por me deparar um, assim mesmo no susto, numa banca de livros em Gramado, RS, em 2001, durante um simpósio de História, ô memória). Deus, como tergiverso! Todo esse imbróglio textual (a verborragia, ô Caetano) e, já me esquecia, falava de Borges. Pois bem, Borges escreveu "As ruínas circulares", um conto absolutamente cifrado e que tem um "enredo" bastante simples: um homem, um estrangeiro, chega a um lugar distante e encontra um antigo templo em ruínas, calcinadas pelas chamas e pelo tempo. Ali se deita e ali sonha. Começa a ver, no sonho, coisas caóticas, nascimentos, órgãos, membros: descobre que está a sonhar com a criação de um homem. Excitado, sonha mais e mais, até o homem ficar pronto. Regozija-se. Sente-se um deus. E, como uma cobra que morde o próprio rabo, o homem do seu sonho, agora feito matéria, deixa as ruínas e parte para o mundo, a viajar. Até que, algum tempo depois, chega uma planície onde há um tempo em ruínas, calcinadas pelo fogo e pelo tempo, como as que seu mestre encontrou há tempos. Sentindo-se cansando, ali se deita. E sonha. Sonha com a criação. Com a criação de um novo homem.

Sempre pensei nesse conto como uma metáfora, contrária àquela máxima de Heráclito, "tudo flui", para o eterno retorno. Estamos sempre voltando. A despeito de tudo, de nossos descaminhos, de nosso desejo por liberdade, pelo novo, pelo inédito, voltamos sempre àquilo que deixamos, àquilo que primordialmente somos. Voltar, portanto, é o verbo mais humano. Voltar ao ventre. Ao útero, não à mãe (que também é uma origem, mas não a primeira), mas ao momento mesmo de surgir. De aparecer. Daí pensar na morte como um retorno. Quando não mais estivermos aqui, é porque retornarmos ao ponto de partida. Ao pó de onde, dizem, viemos. E, ao qual, inelutavelmente, voltaremos.


Desconfio que já sabem que tudo isso, esse texto um tanto quanto confuso, é para demarcar que voltei. A este blog, aos textos, a este repositório dos meus destroços, dos fragmentos de meus dias, de minhas leituras, daquilo que me faz humano. Porque estou sempre voltando. Porque, na verdade, nunca, de fato, fui.


Do Jorge.

Anônimo disse...

Alleluia vc voltou!!!