Olá!
O Prêmio Nobel de Literatura, anunciado ontem pela Academia Sueca, foi concedido ao poeta sueco Tomas Tranströmer, "porque, por meio de suas imagens condensadas e translúcidas, ele nos dá novo acesso à realidade", conforme comunicado oficial da instituição. Mesmo que alguns considerem a escolha uma espécie de provincianismo por parte dos suecos (e vejam que Tranströmer é o quinto patrício a receber o prêmio, depois de Selma Largelöf, Erik Axel Karlfedt, Eviynd Johnson e Harry Martinson), a escolha foi acertada. Pelo pouco que pude ler desde ontem, fuçando traduções feitas aqui e em Portugal (Tranströmer não possui nenhum livro inteiro traduzido no Brasil), sua poesia é concisa (o que é uma virtude rara em poetas contemporâneos) e rica em metáforas sobre os sonhos, a natureza e a morte.
Tomas Tranströmer, que está impedido de falar desde 1990, por conta de um AVC, era um "eterno candidato" ao prêmio e sua láurea é, antes de mais nada, um ato de justiça por parte da Academia. Ao menos, não se premiou um autor pífio ou cuja obra é deveras idiossincrática, como no caso de Elfriede Jelinek. Dessa forma, mesmo que autores como Philip Roth, Claudio Magris e Ismail Kadaré, alguns dos meus preferidos, tenham sido postos de lado este ano, fiquei contante com a escolha de seu nome para o Nobel.
De tudo o que li desde ontem, escolhi um poema publicado na Folha de São Paulo, em sua edição virtual. É uma pequena mostra da poesia de Tranströmer e, além de nos explicar o porquê da escolha, nos dá uma imensa vontade de ler a obra desse grande poeta sueco. A tradução é de Marta Manhães de Andrade:
POEMAS HAIKAIS
Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões.
Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.
As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.
Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.
As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.
E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.
Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão.
Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.
Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.
Do Jorge.
2 comentários:
Olá!
O Prêmio Nobel de Literatura, anunciado ontem pela Academia Sueca, foi concedido ao poeta sueco Tomas Tranströmer, "porque, por meio de suas imagens condensadas e translúcidas, ele nos dá novo acesso à realidade", conforme comunicado oficial da instituição. Mesmo que alguns considerem a escolha uma espécie de provincianismo por parte dos suecos (e vejam que Tranströmer é o quarto patrício a receber o prêmio, depois de Selma Largelöf, Erik Axel Karlfedt, Eviynd Johnson e Harry Martinson), a escolha foi acertada. Pelo pouco que pude ler desde ontem, fuçando traduções feitas aqui e em Portugal (Tranströmer não possui nenhum livro inteiro traduzido no Brasil), sua poesia é concisa (o que é uma virtude rara em poetas contemporâneos) e rica em metáforas sobre os sonhos, a natureza e a morte.
Tomas Tranströmer, que está impedido de falar desde 1990, por conta de um AVC, era um "eterno candidato" ao prêmio e sua láurea é, antes de mais nada, um ato de justiça por parte da Academia. Ao menos, não se premiou um autor pífio ou cuja obra é deveras idiossincrática, como no caso de Elfriede Jelinek. Dessa forma, mesmo que autores como Philip Roth, Claudio Magris e Ismail Kadaré, alguns dos meus preferidos, tenham sido postos de lado este ano, fiquei contante com a escolha de seu nome para o Nobel.
De tudo o que li desde ontem, escolhi um poema publicado na Folha de São Paulo, em sua edição virtual. É uma pequena mostra da poesia de Tranströmer e, além de nos explicar o porquê da escolha, nos dá uma imensa vontade de ler a obra desse grande poeta sueco. A tradução é de Marta Manhães de Andrade:
POEMAS HAIKAIS
Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões.
Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.
As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.
Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.
As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.
E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.
Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão.
Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.
Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.
Do Jorge.
Oi!! Parabéns pelo seu blog!! Adorei e estou seguindo!! Visite o meu blog também e se puder siga: http://peteducacaoufcg.blogspot.com/
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