Olá!
Como não poderia deixar de ser, hoje saúdo o gênio Caetano Veloso, pelos seus 69 anos de idade. É incrível a força que esse leonino tem, atravessando já quase sete décadas, quatro delas dedicados ao ofício de compor e cantar maravilhosas obras, pontos altíssimos do nosso cancioneiro popular. Ainda ontem vi, pelo Youtube, a entrevista que Caê concedeu ao Jô Soares esta semana, penso que na terça-feira. A mesma verve de sempre, cabeça brilhante, críticas ferrenhas à tudo e a todos (ao Lula e ao photoshop, por exemplo). Também a mesma beleza vocal, que não amansou ao longo dos tempos. Tempos que Caetano acompanha com avidez e interesse, sempre decodificando tudo, desconstruindo tudo, reconstruindo também. Ativo como nunca, revelou ao entrevistador que sairia dali para ir ao estúdio acabar de mixar o disco novo da Gal, para o qual compôs todas as canções, além de produzir e dirigir. Que mais dizer? Muito. E seria pouco. Por isso o post é curtinho, só mesmo para demarcar essa já longa admiração, talvez devoção mesmo, que tenho por esse santo-amarense, Sr. Caetano Emanuel Viana Telles Veloso, que hoje completa 69 anos. É, citando Jean-Luc Godard e também Eucanaã Ferraz, "duas ou três coisas que sei dele".
Gosto de tudo dele, então escolho a canção que hoje calha com a ocasião, "Oração ao tempo". Caetano a fez nos idos de 79, ainda jovem. Mas, sabe, acho que ele já pensava no hoje. Porque é o que ele vem fazendo, um acordo com o tempo, do qual ele ganha vitalidade e sabedoria e ao qual ele retribui com beleza e poesia. Deleitem-se:
ORAÇÃO AO TEMPO
És um senhor tão bonito
quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Compositor de destinos
tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo,
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Por seres tão inventivo
e pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Peço-te o prazer legítimo
e o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo
De modo que o meu espírito
ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo
O que usaremos pra isso
fica guardado em sigilo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Apenas contigo e migo
Tempo, tempo, tempo, tempo
E quando eu tiver saído
para fora do ter círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei, nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ainda assim acredito
ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo,
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo,
Portanto peço-te aquilo
e te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo
(IN: Cinema transcendental, 1979)
Do Jorge.
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