Olá!
Ando às voltas com os diários de Saramago, publicados sob o título de "Cadernos de Lanzarote". Neles, o autor fala desde banalidades, como a solução encontrada para escurecer o piso da casa, até o processo de redação de seus romances, como "Ensaio sobre a cegueira" e "Todos os nomes". Acompanha-se as viagens do José pelo mundo, visitando feiras literárias, dando conferências, participando de júris de prêmios e recebendo também seus próprios prêmios. Saramago é um observador arguto da realidade e seu olhar cobre importantes acontecimentos da história do final do século XX (os diários foram redigidos entre 1993 e 1997). É com desconfiança que ele vê, por exemplo, os primeiros passos da União Européia ou as políticas culturais do governo Cavaco e Silva, em Portugal. O autor também não poupa seus colegas de pena, fazendo comentários mordazes sobre a inveja que Antonio Tabucchi sente por ter sido Saramago e não ele o autor de "O ano da morte de Ricardo Reis" e a impertinência do brasileiro Autran Dourado em criticar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Por outro lado, no livro fala-se muito dos afetos. A relação de amor com sua esposa Pilar del Río está fartamente documentada (é com doçura que Saramago reconhece que, sem ela, não teria se tornado o homem e o escritor que foi), bem como a amizade com autores (Jorge Amado e Eduardo Lourenço, por exemplo) e pessoas comuns (como os cunhados Jávier e Maria).
Além disso, os seus diários são eivados de reflexões, sobre todos os assuntos possíveis, profundas e tocantes, como apenas o autor português foi capaz de fazer. Por isso, posto aqui um fragmento sobre a memória e suas responsabilidades, elementos importantíssimos e que ocupavam um lugar central nas preocupações do Saramago escritor e também do Saramago homem público. Por um grato acaso, o texto foi escrito em 28 de fevereiro, data do meu aniversário. Boa coincidência, não?
28 de fevereiro de 1994.
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir".
(p. 237)
Do Jorge.
Um comentário:
Olá!
Ando às voltas com os diários de Saramago, publicados sob o título de "Cadernos de Lanzarote". Neles, o autor fala desde banalidades, como a solução encontrada para escurecer o piso da casa, até o processo de redação de seus romances, como "Ensaio sobre a cegueira" e "Todos os nomes". Acompanha-se as viagens do José pelo mundo, visitando feiras literárias, dando conferências, participando de júris de prêmios e recebendo também seus próprios prêmios. Saramago é um observador arguto da realidade e seu olhar cobre importantes acontecimentos da história do final do século XX (os diários foram redigidos entre 1993 e 1997). É com desconfiança que ele vê, por exemplo, os primeiros passos da União Européia ou as políticas culturais do governo Cavaco e Silva, em Portugal. O autor também não poupa seus colegas de pena, fazendo comentários mordazes sobre a inveja que Antonio Tabucchi sente por ter sido Saramago e não ele o autor de "O ano da morte de Ricardo Reis" e a impertinência do brasileiro Autran Dourado em criticar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Por outro lado, no livro fala-se muito dos afetos. A relação de amor com sua esposa Pilar del Río está fartamente documentada (é com doçura que Saramago reconhece que, sem ela, não teria se tornado o homem e o escritor que foi), bem como a amizade com autores (Jorge Amado e Eduardo Lourenço, por exemplo) e pessoas comuns (como os cunhados Jávier e Maria).
Além disso, os seus diários são eivados de reflexões, sobre todos os assuntos possíveis, profundas e tocantes, como apenas o autor português foi capaz de fazer. Por isso, posto aqui um fragmento sobre a memória e suas responsabilidades, elementos importantíssimos e que ocupavam um lugar central nas preocupações do Saramago escritor e também do Saramago homem público. Por um grato acaso, o texto foi escrito em 28 de fevereiro, data do meu aniversário. Boa coincidência, não?
28 de fevereiro de 1994.
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir".
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