terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A volta, com um pequeno-grande poeta


Olá!



Como sempre faço, no mês de janeiro desligo as máquinas. Como sou professor, tenho a benesse de sempre ter férias na estação do sol, então dá aquela vontade de parar tudo e ficar na base da sombra e da água fresca mesmo. A única coisa que não largo são os livros, embora leia num ritmo mais lento. E como nessas férias emendamos, Mary e eu, uma viagem à Argentina e ao Chile, li pouco: um romance do Lev Raphael (policial, li no avião, entre Buenos Aires e Santiago e, depois, entre Santiago e São Paulo, para nem pensar na vôo), a novela-poema "O ano de 1993", do Saramago (que merecia um post à parte, tão brilhante!), "The murder room", outro livro policial, de P. D. James, substituta natural de Dame Agatha Christie, um livrinho infanto-juvenil, ao qual não pude resistir quando encontrei num sebo (o único, é bem verdade) aqui de São Mateus, chamado "Cascata de cuspe", do João Carlos Marinho, autor com bastante trânsito entre os jovens e que, em parte, contribuiu para a minha formação de leitor na adolescência, quando devorava as aventuras da Turma do Gordo (o livro em questão é uma delas), e um pequeno livro de poemas, "Poemas de almagamar", de Ernande Dionízio, poeta mateense e meu colega de trabalho.

E é deste despretencioso porém belo livro o poema do dia. Ernande merecia, sempre digo a ele, uma editora maior, que lhe desse visibilidade. Porque a sua poeisa é, no mínimo, luminosa. Não é daquelas poetinhas que se julgam os novos Vinícius de Moraes ou Carlos Drummonds da vida. Longe disso: Ernande é pacato e quase ninguém sabe que é poeta, com livro publicado e tudo. Porém, seu texto é raro. Não se parecendo com ninguém (e aí reside a beleza dos seus poemas), ele têm aquilo que caracteriza o verdadeiro poeta: a originalidade. Vale muito a pena lê-lo. E, como pequeno regalo de hoje, posto "Poesia", texto de Ernande, uma pequena amostra desse extraordinário poeta. Ei-lo:



POESIA



Tu à noite
tão só
no sótão


como a nua lua
num banho de luz.


Escópico
como o cosmo
com os olhos de estrelas,


em cada fresta
faço a festa.


O que me resta?


Ser voyeur...

(IN: "Poemas de amalgamar", p. 21)




Do Jorge.