segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poema do dia






Olá!


Faz tempo que não posto um poeminha aqui, não é? É que este blog é diverso, reflexões mil, miroirs do cotidiano. E nem tudo é poesia na vida. Mas hoje. Hoje o dia está de um azul tão radiante, daqueles de dar vontade de correr feito louco pela rua, gritar à beleza de todas as coisas. Até do feio, ô Augusto dos Anjos. Por isso corri ao "O torso e o gato", meu compêdio de poesia universal - brilhantemente traduzida pelo Ivo Barroso -, que contém pílulas de beleza, oriundas da pena de gente como Shakespeare, T. S. Eliot, César Vallejo, Sigrified Sasson, Pablo Neruda, Pedro Salinas, Willian Blake e tantos outros, de todas as épocas. E o escolhido foi... Giácomo Leopardi. Obscuro poeta dos séculos XVIII e XIX, quase ninguém conhece. Mas, que importa? O que vale é a beleza. E o texto tem de sobra. Ei-lo:


O INFINITO


Sempre cara me foi esta colina erma
e esta sebe, que de extensa parte
dos confins do horizonte o olhar me oculta.
Mas, se me sento a olhar - intermináveis
espaços para além, e sobre-humanos
silêncios e quietudes profundíssimas,
na mente vou sonhando - de tal forma
que quase o coração me aflige. E, ouvindo
o vento sussurrar por entre as plantas,
o silêncio infinito à sua voz
comparo: é quando me visita o eterno
e as estações já estão mortas e a presente
é viva com seus cantos. Assim, nessa
imensidão se afoga o pensamento
e doce é naufragar nesses mares.
(século XIX)


Precisa mais?


Do Jorge.

domingo, 11 de outubro de 2009

Prêmio Nobel de Literatura II

Olá!


O Nobel saiu na quinta, só hoje comento: Herta Müller. Alemã, de origem romena. Escreve sobre a opressão política sofrida em seu país original, nos anos 70 e 80, durante o regime de Ceausescu. No Brasil, apenas um livro traduzido, "O compromisso", que saiu pela Record. Não li, portanto é só o que posso escrever sobre ela.

Confesso: não gostei muito da escolha dos suecos esse ano. Quem sabe depois de ler, mudo de ideia?


Do Jorge

sábado, 3 de outubro de 2009

Maria Adelaide Amaral






















Olá!





"Luísa". Se for grafado assim, fica sendo o título do romance de Maria Adelaide Amaral, que ando lendo esses dias. Pode ser também o título daquela canção maravilhosa do Tom Jobim, que amo. Luísa. Se for gravado assim, fica sendo um nome, um nome próprio, de uma mulher comum, chamada Luísa. E penso que o romance "Luísa" tem essa duplicidade: sendo uma obra de ficção, fica também sendo um "roman à cléf", já que a personagem título é (não se pode negar) um eco da própria Maria Adelaide.


Sempre gostei muito do texto dela, que é muito conhecida como autora de novelas e minisséries de televisão. Apesar disso, poucos sabem que ela é uma autora extraordinária. Seu texto é leve e ágil, mas também lírico e repleto pequenas picadas de beleza. Assim é "Luísa", que ganhou o Jabuti de 1982. Trata-se da história de uma jornalista que, no romance, não tem voz. Quer dizer, sua história é contada através de cinco pontos-de-vistas diferentes: Raul, seu amigo homossexual, Rogério, chefe da redação e que nutre uma paixão violente e não-realizada por ela, Sérgio, colega na revista e seu amante, Marga, a amiga e militante política, e Mário, o marido que ela acaba abandonando. O livro é, portanto, um jogo de vozes, bem naquele estilo de "As ondas", da Virginia Woolf. Só que não tão ilegível, não tão mítico e simbólico. As vozes dos cinco se entrelaçam e não se contradizem, para compor um retrato de corpo inteiro da nossa Luísa, o retrato de uma mulher que ama e desama, que vive a plenitude dos anos de chumbo, que se envolve em greves e que luta pelos direitos trabalhistas, que pinta quadros e se interessa por livros e filosofia. Uma brasileira, enfim. E isso belamente conduzido pelo texto de Maria Adelaide, que escreve, ao mesmo tempo, com a pena clara da jornalista que ela foi por anos, e com a alma de mulher, que ela é e que transfere para esse belo romance.




Do Jorge.