quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um pouco de calor


Olá!



Sou daqueles que consideram a letra de canção poesia, todos sabem. Minha dissertação de mestrado provou (bom, acho que provou) isso através dos textos do Caetano que analisei. Por isso que, vira e mexe, aparecem aqui canções/poemas. Como hoje.

Hoje está um forno. A janela aberta e nada. São Mateus arde. Parece maio, como naquele poema da Adélia Prado ("em maio a tarde não arde, fulgura"). O suor escorre tão logo saímos do banho, tudo fica lento, o cérebro parece fritar enquanto tentamos pensar. No entanto, nessa noite hipercalorenta, acabei pensando o contrário. Quer dizer, a idéia que me veio agora, quando lembrei da entrevista do compositor Dan Nakagawa, autor da canção "Um pouco de calor", entrevista que está nos extras do dvd "Inclassificáveis", do Ney, que a gravou. O Dan diz que fez essa canção quando passava uma temporada em Berlim, em pleno inverno europeu (como agora). Ele diz que, mais que qualquer outra coisa, sentia absoluta falta do calor brasileiro, pois na capital alemã se sentia duplamente frio: o clima e as pessoas eram frios. Daí a saudade do calor. Pensei nisso hoje e pensei na canção, que posto aqui:


Saí à toa nessa madrugada
Sem saber porquê
A noite daqui é tão linda e faz me perder
Penso num belo horizonte em poder te ver
Sei que eu não tenho mais nada a perder

Meu carro que não quer mais andar
Essa noite que não quer terminar
Onde está você meu amor?
Eu preciso de um pouco de calor

Saí à toa nessa madrugada
Sem saber porquê
A noite daqui é tão linda e faz me perder
Penso num belo horizonte em poder te ver
Sei que eu não tenho mais nada a perder
Se eu não tenho mais nada a perder
No meu peito eu tenho você
É nessa estrada que eu quero estar
Eu quero o dia, a noite e o mar e cantar

Meu carro que não quer mais andar
Essa noite que não quer terminar
Onde está você meu amor?
Eu preciso de um pouco de calor
(Dan Nakagawa)


Achei uma alternativa poética, uma maneira legal de encarar o calor desse verão, que começou ontem. E que promete muito, muito mais calor.



Do Jorge.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Resumo de um domingo:

Olá!
Eis o domingo, este: uma xícara de café, bem forte, Gal na vitrola, a mesa cheia de provas e diários. Por isso, sem tempo para postar algo legal por aqui.
Do Jorge.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bob Dylan


Olá!



Nesses dias atribulados de fim de ano, entre as obrigações na escola e a correria normal que todo ano que termina traz consigo, registro que tenho ouvido Bob Dylan à exaustão. Sempre gostei dele, mas agora o estou achando meu ídolo, ao lado do Caetano. Tanto que estou começando a ver um pouco de luz na minha eterna pesquisa para o doutorado. Isso porque decidi que o ano que vem, tento as provas para começá-lo. Adiei em demasia. Por conta do tempo, da dificuldade de ir ao Rio ou a Sampa semanalmente para as aulas. Mas agora o Mestrado em Letras da UFES teve a autorização da Capes para implantar o doutorado. Me animei logo, mas não tinha um projeto em mente.

Não tinha. Mas agora, sinto começar a ser gestada em mim a idéia de trabalhar Dylan e Caetano. Seria uma ampliação da minha dissertação de mestrado (que foi exclusivamente sobre a intertextualidade em Caetano Veloso), incluindo uma análise das interrelações textuais entre as canções dos dois, que, embora pertencendo à tradições musicias e poéticas diversas, são quase irmãos gêmeos, ambos grandes letristas, grandes performers, grandes músicos. É uma idéia que, agora no verão, quero pôr no papel.

E enquanto vou pensando (e ouvindo Dylan), posto aqui a letra de "Jokerman", uma das minhas canções diletas do Bob e que Caetano gravou, nos anos 90. A tradução? Pesquei na net, não encontrei o tradutor, por isso não dou o crédito. Segue:


JOKERMAN (O coringa)


Sobre as águas, jogando seu pão,
Enquanto os olhos do ídolo, com a cabeça de ferro, estão brilhando.
Barcos distantes rumo à bruma seguem seus cursos,
Você nasceu com uma cobra em seus pulsos, enquanto um furacão estava soprando
Liberdade logo ao virar a esquina para você
Mas, com a confiança tão longe, de que servirá?
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
O sol põe-se tão velozmente no céu,
Você se levanta e diz adeus para ninguém.
Tolos correm para lugares onde anjos temem pôr seus pés,
O futuro dos dois, tão cheios de temor, você não tem nenhum.
Mudando mais uma camada de pele,
Mantendo-se a um passo a frente do perseguidor dentro de você.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Você é um homem das montanhas, você pode andar nas nuvens,
Manipulador de multidões, você distorce sonhos.
Você irá para Sodoma e Gomorra,
Mas o que te importa?
Lá ninguém vai querer casar com a sua irmã.
Amigo do mártir, um amigo da mulher que causa vergonha,
Você olha dentro da fornalha escaldante, vê um homem rico sem nome.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Bem, o Livro do Livítico e Deuteronômio,
A lei da selva e do mar são seus únicos professores.
Na fumaça do crepúsculo sobre um corcel lácteo,
Michelangelo realmente poderia ter esculpido sua feição.
Repousando nos prados, longe do espaço turbulento,
Meio adormecido perto das estrelas, com um pequeno cachorro lambendo seu rosto.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Bem, o fuzileiro aproxima-se silenciosamente dos doentes e aleijados,
O pregador busca o mesmo, quem chegará lá primeiro é incerto.
Cassetetes e canhões de água, gás lacrimejante, cadeados,
Coquetéis molotov e pedras atrás de cada cortina,
Juízes pérfidos morrendo nas teias que eles mesmos tecem,
É só uma questão de tempo até que a noite se instale.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
É um mundo sombrio, céus são escorregadiamente cinzentos,
Uma mulher acabou de dar à luz a um príncipe hoje e o vestiu de escarlate.
Ele irá pôr o padre no bolso, pôr a lâmina para aquecer,
Tirem as crianças sem mães da rua
E coloquem-nas aos pés de uma meretriz.
Oh, Curinga, você sabe o que ele quer,
Oh, Curinga, você não demonstra nenhuma reação.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.

(Bob Dylan, 1983)

Do Jorge.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um comprimido para dormir... (II)




Olá!


Já estou quase emborcando no sono, luto ainda contra ele porque quero concluir ao menos esse capítulo do romance "Uma casa no fim do mundo", do Michael Cunningham, que ando lendo nesses dias. E é dele o trecho que vai hoje, aqui, como uma pílula para dormir (um Rivotril poético, se assim quiserem).
O personagem Bobby está na cozinha da casa de seus amigos Clare e Jonnathan, tentando pregar uma peça neste último, quando subitamente se recorda de seu irmão Carlton, morto há anos atrás. Ele diz:


"(...) Me ocorreu que a própria morte talvez fosse uma forma mais distante de participação na contínua história do mundo. A morte poderia ser assim - uma simultânea presença e ausência enquanto os amigos da gente continuavam a conversar, entre lâmpadas e móveis, sobre alguém que não era mais você. Pela primeira vez em vários anos senti a presença do meu irmão. Senti inequivocadamente - sua essência, seu propósito, a característica de Carlton que permanecia depois que a voz, a carne e todas as outra consequências corporais já tinham ido embora. Eu o senti naquela cozinha com tanta certeza quando tinha sentido numa tarde fria e branca no cemitério, anos antes, quando um brilhante futuro reverberava para além dos túmulos, para além da curvatura da Terra." (p. 162)


Pura beleza, não?
Do Jorge.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A elegância das coisas















Olá!



Adoro estantes. Com livros, discos, dvds, repletas de pequenas memórias. Tenho duas, em casa. A de livros, repleta, já esperando uma expansão para acomodar os livros que não cabem mais e que se espalham já pelo chão e por debaixo da mesa da biblioteca. E a da sala, com tv, aparelho de dvd, receptor e meus cds, dvds, boxes do Caetano e do Ney, Mozart, Beethoven, Maria Bethânia... divago. De vez em quando deixo uma fresta da minha vida privada escapar por aqui. Bem, é só usar a tecla delete e ir apagando tudo, certo? Mas não. Deixa essa frestinha aí jogando luz. Só ela.

Mas por que escrever sobre isso?, perguntam. É que hoje descobri um blog pra lá de supimpa. É o da atriz Mika Lins (ela ganhou certa notoriedade há uns quatro anos atrás, quando interpretou a vilã Esther na novela "Os ricos também choram", remake digno, exibido pelo Sbt, mas que trabalha muito no teatro em Sampa). Ela tem paixões semelhantes às minhas: fotografia, livros, música e... estantes. O blog dela é repleto delas. Vale a pena dar uma espiadela. Postei a estante da Mika aí acima, para um gostinho. O link do blog é eleganciadascoisas.blogspot.com. Cliquem tranquilos e confiram a elegância das coisas na visão de Mika Lins.


Do Jorge.

domingo, 22 de novembro de 2009

Quem não vive tem medo da morte

Olá!

Em outro momento neste blog já escrevi sobre o Ney Matogrosso, que considero um exemplo de artista completo, seja pela sua bela e rara voz, seja pelas suas ousadas posturas cênicas, que têm, antes de tudo, verdade e lirismo. Nessas últimas semanas o tenho ouvido muito, quase à exaustão, num trabalho de (re)lapidar disco por disco, desde o ousado "Água do céu-pássaro", até o belo "À flor da pele", presentes na caixa Camaleão, que a Universal lançou recentemente, cobrindo o período 1975-1991.

E em meio à sua discografia, me deparei com este que já considero um dos meus discos prediletos, "Quem não vive tem medo da morte". Já me encantei de cara com a capa, mostrando o Ney de cabeça baixa, um chapelão preto cobrindo metade do rosto, o corpo recoberto por uma manta azul. Místico. Aliás, todo o repertório o é. Na contracapa, o Ney explica que as canções foram escolhidas por suas mensagens espirituais, já que naquela época (1988), ele andava às voltas com experiências religiosas e místicas através do culto do Santo Daime. Por isso, canções que fazem referência à transformações radicais ("Um rei"), que falam do despojamento necessário para se encontrar a felicidade ("Felicidade zen"), das mil facetas do existir ("Chavão abre porta grande", de onde foi tirado o verso que nomeia o disco), dos mistérios e desencontros do amor ("Dama do cassino", belíssima), da necessidade de solidão ("Só") ou da amizade ("Caro amigo"). Enfim, um álbum repleto de preciosidades que pouco ou nada tocaram nas rádios, mas que são como um bálsamo em meio à loucura contemporânea. Um disco de um artista em plena fase de auto-conhecimento, como diz a contra-capa.
Como texto do dia, posto a letra de "Um rei", de Celsinho Fonseca e Ronaldo Bastos:


UM REI


Afasta o destino, vai
Se muda do teu lugar
Finge que és ninguém
Disperso na multidão
A mão do destino tem
Mil dedos que não se vê
E lábios que finos são
Algemas para prender um rei

As forças ocultas, sim
São cartas marcadas
Ninhos na solidão
Em fios de alta-tensão
As voltas que o mundo dá
Nas linhas mais retas são
Presságios que vêm do mar
Por ondas incertas que vão te afogar

Tudo que a vida aprontou com você
Deu no que era pra dar
Nunca se pode tentar desfazer
Mas nada se perde em tentar
Círculos falsos, miragens reais
Linhas na palma da mão
Num labirinto de tramas fatais
A indecifrável visão.


Claro que ouvir essa letra na voz do Ney é uma experiência superior à leitura. Tentem encontrar a gravação, acho que no Sonora (Terra) há a obra do Ney completa, pra ouvir. Vale muito a pena. Vale como reflexão, sobre a vida mesmo, essa nossa desconhecida. Afinal, como diz a canção, "nada se perde em tentar".



Do Jorge.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Uma paixão

Olá!

Amanhã, por orientação da Secretaria de Educação, deveremos ler um texto, à nossa escolha, para os nossos alunos, entre 15h30 e 15h45. 15 minutos de leitura. Fiquei pensando no que ler para os meninos. lembrei do conto "A mão no ombro", da Lygia Fagundes Telles e que gosto muito, mas não decidi na hora. Fiquei de pensar melhor. Quando cheguei em casa, depois da minha corrida diária e do banho, fui até minha estante olhar para aqueles livros, para que eles me revelassem o texto ideal. Sim, amigos, os livros me dizem coisas extraordinárias. Por isso os levo tão à sério, por isso escolher um texto literário para uma turma, um texto curto que caiba em 15 minutos é, para mim, uma tarefa séria. Por isso fitei as lombadas. E veio. A resposta. O poema "Para a feira do livro", do João Cabral de Melo Neto. "Perfeito", eu disse, retirando as Obras Completas do poeta pernambucano, o poema me veio de cor antes que eu chegasse a ele:


PARA A FEIRA DO LIVRO


A Ángel Crespo


Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido vegetal de folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que o vento em folha de livro.
Todavia, a folha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania, varrendo o podre a zero.


Silencioso: quer fechado ou aberto,
Incluso o que grita dentro, anônimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam as suas redes.
Mas apesar disso e apesar do paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.



Os olhos marejaram, é claro. Nunca alguém foi tão preciso ao descrever o amor aos livros. A comparação entre o livro e a árvore, entre as folhas dele e dela, é algo sublime. A árvore, como o livro, personifica, ao mesmo tempo, a idéia de sabedoria e de eternidade. É o que o livro representa para mim, é o que amanhã, depois de ler o poema, pretendo discutir com os alunos, o saber e o sempre, o eterno, o perene. Agradeci pelo dom de ser leitor. Um dom raro, hoje em dia, que guardo como um tesouro. Como meus livros.


Do Jorge.
P.S.: a estante da foto é a minha própria.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sexta-feira 13: dia de poesia!


Olá!


Tabus mil pairam sobre esse malfadado 13. Sobretudo quando desafortunado numeral recai numa sexta-feira como hoje. Aí é ver gato preto e correr para o banho de sal grosso, corre-se tal o demo da cruz quando se vê uma escadinha inocente no canto. Passar por debaixo dela? Deus o livre, sangue de Cristo tem poder!! Só com arruda atrás da orelha, e isso para os realmente valentes.

Bom, tudo são supertições... e quem não as têm? E para quebrar um pouco o encanto dessa sexta-feira (que, como dizia um locutor de rádio lá da minha terra, é "dia internacional das armações"), despejo aqui um poeminha, um bafejo de luz sobre o breu dessa sexta-feira 13:



MEMÓRIA


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.


Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.


Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)



Do Jorge.


P.S.: não façam como o desavisado que me corrigiu, dizendo que "olvido" é um com u. O órgão responsável pela audição sim. Esse olvido quer dizer "esquecido". É um "espanholismo" do Drummond (olvidar = esquecer).

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poema do dia






Olá!


Faz tempo que não posto um poeminha aqui, não é? É que este blog é diverso, reflexões mil, miroirs do cotidiano. E nem tudo é poesia na vida. Mas hoje. Hoje o dia está de um azul tão radiante, daqueles de dar vontade de correr feito louco pela rua, gritar à beleza de todas as coisas. Até do feio, ô Augusto dos Anjos. Por isso corri ao "O torso e o gato", meu compêdio de poesia universal - brilhantemente traduzida pelo Ivo Barroso -, que contém pílulas de beleza, oriundas da pena de gente como Shakespeare, T. S. Eliot, César Vallejo, Sigrified Sasson, Pablo Neruda, Pedro Salinas, Willian Blake e tantos outros, de todas as épocas. E o escolhido foi... Giácomo Leopardi. Obscuro poeta dos séculos XVIII e XIX, quase ninguém conhece. Mas, que importa? O que vale é a beleza. E o texto tem de sobra. Ei-lo:


O INFINITO


Sempre cara me foi esta colina erma
e esta sebe, que de extensa parte
dos confins do horizonte o olhar me oculta.
Mas, se me sento a olhar - intermináveis
espaços para além, e sobre-humanos
silêncios e quietudes profundíssimas,
na mente vou sonhando - de tal forma
que quase o coração me aflige. E, ouvindo
o vento sussurrar por entre as plantas,
o silêncio infinito à sua voz
comparo: é quando me visita o eterno
e as estações já estão mortas e a presente
é viva com seus cantos. Assim, nessa
imensidão se afoga o pensamento
e doce é naufragar nesses mares.
(século XIX)


Precisa mais?


Do Jorge.

domingo, 11 de outubro de 2009

Prêmio Nobel de Literatura II

Olá!


O Nobel saiu na quinta, só hoje comento: Herta Müller. Alemã, de origem romena. Escreve sobre a opressão política sofrida em seu país original, nos anos 70 e 80, durante o regime de Ceausescu. No Brasil, apenas um livro traduzido, "O compromisso", que saiu pela Record. Não li, portanto é só o que posso escrever sobre ela.

Confesso: não gostei muito da escolha dos suecos esse ano. Quem sabe depois de ler, mudo de ideia?


Do Jorge

sábado, 3 de outubro de 2009

Maria Adelaide Amaral






















Olá!





"Luísa". Se for grafado assim, fica sendo o título do romance de Maria Adelaide Amaral, que ando lendo esses dias. Pode ser também o título daquela canção maravilhosa do Tom Jobim, que amo. Luísa. Se for gravado assim, fica sendo um nome, um nome próprio, de uma mulher comum, chamada Luísa. E penso que o romance "Luísa" tem essa duplicidade: sendo uma obra de ficção, fica também sendo um "roman à cléf", já que a personagem título é (não se pode negar) um eco da própria Maria Adelaide.


Sempre gostei muito do texto dela, que é muito conhecida como autora de novelas e minisséries de televisão. Apesar disso, poucos sabem que ela é uma autora extraordinária. Seu texto é leve e ágil, mas também lírico e repleto pequenas picadas de beleza. Assim é "Luísa", que ganhou o Jabuti de 1982. Trata-se da história de uma jornalista que, no romance, não tem voz. Quer dizer, sua história é contada através de cinco pontos-de-vistas diferentes: Raul, seu amigo homossexual, Rogério, chefe da redação e que nutre uma paixão violente e não-realizada por ela, Sérgio, colega na revista e seu amante, Marga, a amiga e militante política, e Mário, o marido que ela acaba abandonando. O livro é, portanto, um jogo de vozes, bem naquele estilo de "As ondas", da Virginia Woolf. Só que não tão ilegível, não tão mítico e simbólico. As vozes dos cinco se entrelaçam e não se contradizem, para compor um retrato de corpo inteiro da nossa Luísa, o retrato de uma mulher que ama e desama, que vive a plenitude dos anos de chumbo, que se envolve em greves e que luta pelos direitos trabalhistas, que pinta quadros e se interessa por livros e filosofia. Uma brasileira, enfim. E isso belamente conduzido pelo texto de Maria Adelaide, que escreve, ao mesmo tempo, com a pena clara da jornalista que ela foi por anos, e com a alma de mulher, que ela é e que transfere para esse belo romance.




Do Jorge.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Prêmio Nobel de Literatura











Olá!


Está aberta a temporada do Prêmio Nobel. O primeiro dos seis (Física) será anunciado em Estocolmo em 05 de outubro. Nem preciso dizer que o que mais me interessa é o de Literatura. É como um ritual acompanhar a bolsa de apostas londrina Labrokes.com, conferir quem tem mais probabilidades (embora nunca acertem) ou ler os críticos e blogueiros de plantão dando seus palpites. Acompanho tudo e faço minhas apostas. Tenhos meus nomes preferidos, aqueles que gostaria que ganhassem o prêmio e é por eles que torço.


Quem me conhece sabe que sonho ver o prêmio concedido ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, 101 anos. Alguns não-escritores ganharam o prêmio ao longo dos seus mais de cem anos de história: Theodor Mommsen (historiador), Henri Bergson (filósofo), Winston Churchill (estadista) e Jean-Paul Sarte (filósofo) são alguns deles. Portanto não seria antiprotocolar entregar a Lévi-Strauss o Nobel, por tudo o que ele representou para as ciências humanas no século XX. Mas acho que não verei isso acontecer. Mas ficarai bastante contente se a laureada fosse a norteamericana Joyce Carol Oates ou a canadense Margaret Atwood. Grandes damas das letras, ambas merecem o prêmio por suas obras que transitam pelo feminino e suas ramificações (Oates) e pelo universo fantástico e absurdo contemporâneo (Atwood). Também torço por Philip Roth (eterno candidato) e seus retratos da sociedade americana de nosso tempo ou Mario Vargas Llosa, que amei desde sempre, quando li "Pantaleão e as visitadoras".

Brasileiros? Ora, os realmente capazes de ganhar já estão mortos. Falo, naturalmente, de João Cabral de Melo Neto e Jorge Amado. Dos vivos, poucos têm projeção necessária para seduzirem a Academia Sueca, embora muitos dos nossos mereçam, como Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado e Ferreira Gullar, por exemplo. Mas penso que não será desta vez que o Brasil terá um Nobel.

Conjeturas, enfim. Afinal, tudo pode acontecer no início do mês que vem, numa quinta-feira (já que ainda não há data marcada, conforme tradição secular dos suecos). Lembro do susto de Elfriede Jelinek, que ganhou em 2004 (praticamente desconhecida) ou do Dario Fo, em 1996 (cuja obra é ridícula e pífia). Quem sabe esse susto não é agradável? É pagar pra ver.

Do Jorge.

P.S.: As fotos são de (de cima para baixo) Mario Vargas Llosa, Philip Roth, Margaret Atwood, Joyce Carol Oates e Claude Lévi-Strauss.













terça-feira, 8 de setembro de 2009

Guardanapos de papel

Olá!
É mesmo um jogo de aparece-desaparece. Venho, sumo uns tempos, volto a postar. Às vezes falta tempo. Outras, falta disposição. E outras, falta assunto mesmo. Não gosto de escrever sem vontade, sem ter realmente algo a dizer, a compartilhar - e penso ser um blog o espaço de compartilhamento essencial na internet. Mas nunca perco isso aqui de vista.
E hoje, quero compartilhar. É que, procurando vídeos no youtube, encontrei uma homenagem a alguns dos maiores autores brasileiros (e alguns estrangeiros). São fotos deles, tendo ao fundo a bela música "Guardanapos de papel", famosa na versão do Milton Nascimento, mas que ali é também belamente interpretada por Clara Sandroni. É tão linda que vale pôr aqui a letra:

"Guardanapos de papel"
(Leo Mallish / Carlos Sandroni)

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
Trombetas e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glorias nem medalhas, medalhas
Medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas
Confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro

É um bela homenagem àqueles que tem como ofício a palavra. Àqueles que lavram. Lavram a palavra, como diz o vídeo. Emocionou-me, espero que a vocês também emocione. Aqui vai o link do vídeo (cliquem tranquilos, não é vírus):
http://www.youtube.com/watch?v=GnZ-jyDDp6k

Abraços poéticos,

Do Jorge.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Wislawa Szymborska



Olá!



O Nobel de 1996 supreendeu muita gente ao ser concedido à poeta polonesa Wislawa Szymborska. Praticamente desconhecida no Brasil à época (até hoje, posto que nenhum livro seu foi inteiramente vertido para o nosso português), a laureada tornou-se logo a coqueluche do momento. Todos queriam lê-la, conhecer o seu universo poético. E eu, leitor voraz desde sempre, como eles procurei algo daquela mulher. Não leio polonês, é claro. O que me caiu (via internet), acabei traduzindo do inglês. Achei bárbaro: os poemas que traduzi/li logo revelaram-se esplandidamente simples, cotidianos, profundamente humanos, mas políticos em sua defesa da nossa condição. Uma voz feminia polonesa, na melhor tradição de Czeslaw Miloz, outro polonês laureado, foi a minha grata descoberta.



E eis que hoje à noite, revirando (metaforicamente, é claro, pois uso o computador) antigos textos digitais, descubro os poemas que traduzi. São três: "Possibilidades" (Possibilities), "A alegria de escrever" (The joy of writing) e "Utopia" (Utopia). Criei coragem (me veio agora, de assalto) e publico uma delas, "Possibilidades". No original e a minha tradução, para que o leitor compare. Vá lá:


Possibilities

I prefer movies.
I prefer cats.
I prefer the oaks along the Warta
I prefer Dickens to Dostoyevsky.
I prefer myself liking peopleto myself loving mankind.
I prefer keeping a needle and thread on hand, just in case.
I prefer the color green.
I prefer not to maintainthat reason is to blame for everything.
I prefer exceptions.
I prefer to leave early.
I prefer talking to doctors about something else.
I prefer the old fine-lined illustrations.
I prefer the absurdity of writing poemsto the absurdity of not writing poems.
I prefer, where love's concerned, nonspecific anniversaries
that can be celebrated every day.
I prefer moralists
who promise me nothing.
I prefer cunning kindness to the over-trustful kind.
I prefer the earth in civvies.
I prefer conquered to conquering countries.
I prefer having some reservations.
I prefer the hell of chaos to the hell of order.
I prefer Grimms' fairy tales to the newspapers' front pages.
I prefer leaves without flowers to flowers without leaves.
I prefer dogs with uncropped tails.
I prefer light eyes, since mine are dark.
I prefer desk drawers.
I prefer many things that I haven't mentioned here
to many things I've also left unsaid.
I prefer zeroes on the looseto those lined up behind a cipher.
I prefer the time of insects to the time of stars.
I prefer to knock on wood.
I prefer not to ask how much longer and when.
I prefer keeping in mind even the possibility
that existence has its own reason for being.


Possibilidades


Prefiro filmes.
Prefiro gatos.
Prefiro os carvalhos ao longo do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro gostar das pessoas a fazer amor.
Prefiro ter linha e agulha a mão, por precaução.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não manter aquela razão,
culpada por tudo.
Prefiro exceções.
Prefiro partir cedo.
Prefiro conversar algo com os doutores.
Prefiro antigas ilustrações.
Prefiro o absurdo de escrever poemas
ao absurdo de não escrever poemas.
Prefiro o amor interessado, das datas inesperadas,
a ser celebrada todos os dias.
Prefiro os moralistas
que não me prometem nada.
Prefiro a boa astúcia à falsa confiança.
Prefiro a terra nua.
Prefiro ser conquistada a conquistar.
Prefiro ter algumas reservas.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os Contos dos Irmãos Grimm às primeiras páginas dos jornais.
Prefiro abandonar flores a ver flores abandonadas.
Prefiro cães com rabos não cortados.
Prefiro olhos iluminados, desde que os meus sejam escuros.
Prefiro mesas de desenho.
Prefiro muitas outras coisas que não mencionei aqui,
muitas outras coisas também, indizíveis.
Prefiro os zeros
aos números de grande cifra.
Prefiro o tempo dos insetos ao tempo das estrelas.
Prefiro bater nas árvores.
Prefiro não perguntar quão longe e quando será.
Prefiro imaginar que cada possibilidade
da vida tem sua própria razão de ser.

Wislawa Szymborska
(Traduzido por Jorge Luís Verly Barbosa, 1996)





Relendo agora, não achei tão mal assim. Algumas solução apressadas (ai, meus quinze anos!) aqui e ali, mas acho que transpus com respeito o espírito de Wislawa. Ao menos, serviu para que eu a conhecesse. Talvez, sirva para vocês também.










Do Jorge.





sábado, 18 de julho de 2009

Um comprimido para dormir...

Olá!


Caiu e já vai alta a noite, eu também caio no sono...
Antes de dormir, um poema, com uma drágea, balsâmica, que me fará repousar, para o meu sono de beleza (poética, não estética, é claro):


Dentro de mim há pássaros
e eu me sinto cansado
de partir.

Sou homem e não sei
para onde ir.
Sou pássaro,
não sei porque me espantam.

(Carlos Nejar)


Do Jorge.

domingo, 12 de julho de 2009

O barco mítico



















Olá, outra vez!


Pensando nos barcos e no mar (vide o post anterior), agora, no fim da tarde/início da noite, enquanto dou uma pausa na leitura do Seferis, me veio como num relâmpago o poema da Sophia de Mello Breyner, dito magistralmente pela Bethânia no show "Dentro do mar tem rio":


Através do meu coração passou um barco
que não para de seguir, sem ti,
o seu caminho



Para terminar bem (e poeticamente) o dia.



Do Jorge.

Leitura de férias




Olá!




Esse blog é como uma centelha, uma fagulha que ora se apaga, ora se (re)acende. Não vivo em função dele, mas sei que ele vive em mim. Porque o que aqui está resvala de mim, do que sou, dos meus apontamentos sobre o mundo, sobretudo de como o vejo e de como o sinto.


Então, vale aqui falar dos planos para esta semana (curtíssima) de recesso escolar. Uma pausa da escola (e das leituras pedagógicas, históricas, teóricas) e me propus ler, nesta semana, dois autores há muito desejados, mas ambos sem tempo para mim (eu, na verdade, para eles): Thomas Mann e Giorgios Seferis. Devo dizer que a escolha não foi planejada, mas casual. Melhor, planejada pelo acaso. Na semana anterior, dando uma bisbilhotada na biblioteca da escola, encontrei, numa estante meio escondida, a Biblioteca do Prêmio Nobel. Foi uma dupla surpresa. A primeira, por econtrar lá os dois autores, que eu há muito esperava reler. E, a segunda, por ter me reencontrado com essa coleção, que fazia parte da biblioteca da escola em que fiz o Ensino Médio. Foi através dela que li, pela primeira vez, Mann e Seferis, além de Salvatore Quasímodo, Gabriela Mistral, T. S. Eliot, André Gide, Saint-John Perse, entre tantos outros "nóbeis" autores. Foi assim que decido meu roteiro de leituras de férias. Escolhi Mann ("A morte em Veneza") e Seferis ("Poemas") quase que imediatamente.


Comecei por Seferis, no sábado (ontem). Trata-se de uma leitura rápida, como é a leitura de poemas. Mas sempre atenta, reflexiva. A primeira parte do livro, "Mitohistorima" ("Mitologia", em português) é uma volta à história grega, pela ótica do mar, dos grandes navegadores, desde o mítico Ulisses e seus argonautas, atés os marinheiros comuns gregos, que fazem a glória do comércio marítimo daquele país. Seferis tem uma dicção muito clara, direta como a fala, mas, ao mesmo tempo, plena de lirismo, embebida de história e de sentimento gregos. Reproduzo um dos poemas:




XII


Três rochedos, alguns pinheiros calcinados, uma ermida.
Um pouco mais alto
Repete-se a paisagem:
Três rochedos em forma de quebra-vento, carcomidos,
Alguns pinheiros calcionados negros e amarelos,
Um casebre quadrado perdido na cal,
E mais alto, ainda, várias vezes,
Reitera-se a paisagem, em degraus
Até o horizonte, até o céu do poente.

Aqui, lançamos âncora para reparar nossos remos partidos,
Matar a sede, dormir.
O mar que nos magoou, o mar profundo e insondável,
Desdobra sua calma sem limites.
Aqui, entre as pedras do lastro, encontramos uma moeda de prata
E a jogamos aos dados.
O mais jovem ganhou, não o vimos mais.

Tornamos a partir com os remos quebrados.




O poema poderia tratar-se tanto dos gregos mitologicos, como de marinheiros de nossa época. Há de comum entre eles (e entre nós, gregos ou não) o chamado do mar, mais forte, como uma imperiosa voz que se exige ouvir. E obedecer. Trata-se do mar, enfim, e de sua potência.


Volto, agora, a Seferis. Posto depois novas impressões sobre ele e sobre Mann.




Do Jorge.
PS: As fotos são de Thomans Mann, em sua bliblioteca, na década de 40, e Seferis, na Grécia, sua terra natal, no fim da vida.

domingo, 31 de maio de 2009

Poesia da tarde


Olá!


O sol vai caindo, nessa cristalizada imagem que é o seu pôr, eterno, dia após dia, pelos séculos, amém! É uma imagem que vejo sempre dessa minha janela, que me persegue sempre. É uma hora perigosa, como disse a cantora Maria Bethânia numa entrevista, é como se a natureza mudasse a guarda. Fica um buraco no dia. É como um espanto, o fim da tarde. Um estranho epílogo para esta que é, sem dúvida, a parte mais poética do dia.

Para consolar-nos, só a poesia. E Deus. Ou ambos, como nesse belo poema da Adélia Prado, talvez feito também num fim de tarde:


"Órfã na janela"


Estou com uma saudade de Deus,
uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada me conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe,
meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus,
cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,
querendo um pôster dele no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu todo vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que ele vai,
para a casa onde está meu pai.

(In: "O coração disparado", 1978)



Do Jorge.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ainda sobre Gal...



Olá!


Nesse finzinho de noite, fuçando aqui na net informes sobre a apresentação da Gal e da cantora norte-americana Dionne Warick, descubro o óbvio: Gal continual sendo a Voz. O vídeo (visto pelo Youtube) de "As vitrines", do Chico, mostra essa senhora de 62 anos de idade com uma voz impecável, o claro cristal.

Fiquei emocionado de vê-la tão bem, ela que andava sumida, ela que foi vítima de rumores maledicentes de que sua voz estava indo embora...

Qual nada! Ela esta aí, viva, a Dona da Voz, nossa Gal. Gal Costa do Brasil. Antes de dormir, vou por para tocar "Musa cabocla", música que o Waly Salomão fez pra ela e que é a canção que melhor define Gal, ela que é a "geratriz da canção brasileira". Segue a letra, que fica valendo como poema do dia.



MUSA CABOCLA


Uirapuru canta no seio da mata
Papagaio nenhum solta um pio
Sereia canta sentada na pedra
Marinheiro tonto medra pelo mar


Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela
Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela


Coração pipoca na chapa do braseiro
Sou baunilha, sou lenha que queima
Que queima na porta do formigueiro
E ouriça o pêlo do tamanduá


Mãe matriz da fogosa palavra cantada
Geratriz da canção popular desvairada
Nota mágica no tom mais alto, afinada

Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela
Sou pau de resposta, jibóia, sou eu, canela
Sereia eu sou uma tela, sou eu, sou ela

(Waly Salomão)


Abraço,


Do Jorge.