quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um pouco de calor


Olá!



Sou daqueles que consideram a letra de canção poesia, todos sabem. Minha dissertação de mestrado provou (bom, acho que provou) isso através dos textos do Caetano que analisei. Por isso que, vira e mexe, aparecem aqui canções/poemas. Como hoje.

Hoje está um forno. A janela aberta e nada. São Mateus arde. Parece maio, como naquele poema da Adélia Prado ("em maio a tarde não arde, fulgura"). O suor escorre tão logo saímos do banho, tudo fica lento, o cérebro parece fritar enquanto tentamos pensar. No entanto, nessa noite hipercalorenta, acabei pensando o contrário. Quer dizer, a idéia que me veio agora, quando lembrei da entrevista do compositor Dan Nakagawa, autor da canção "Um pouco de calor", entrevista que está nos extras do dvd "Inclassificáveis", do Ney, que a gravou. O Dan diz que fez essa canção quando passava uma temporada em Berlim, em pleno inverno europeu (como agora). Ele diz que, mais que qualquer outra coisa, sentia absoluta falta do calor brasileiro, pois na capital alemã se sentia duplamente frio: o clima e as pessoas eram frios. Daí a saudade do calor. Pensei nisso hoje e pensei na canção, que posto aqui:


Saí à toa nessa madrugada
Sem saber porquê
A noite daqui é tão linda e faz me perder
Penso num belo horizonte em poder te ver
Sei que eu não tenho mais nada a perder

Meu carro que não quer mais andar
Essa noite que não quer terminar
Onde está você meu amor?
Eu preciso de um pouco de calor

Saí à toa nessa madrugada
Sem saber porquê
A noite daqui é tão linda e faz me perder
Penso num belo horizonte em poder te ver
Sei que eu não tenho mais nada a perder
Se eu não tenho mais nada a perder
No meu peito eu tenho você
É nessa estrada que eu quero estar
Eu quero o dia, a noite e o mar e cantar

Meu carro que não quer mais andar
Essa noite que não quer terminar
Onde está você meu amor?
Eu preciso de um pouco de calor
(Dan Nakagawa)


Achei uma alternativa poética, uma maneira legal de encarar o calor desse verão, que começou ontem. E que promete muito, muito mais calor.



Do Jorge.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Resumo de um domingo:

Olá!
Eis o domingo, este: uma xícara de café, bem forte, Gal na vitrola, a mesa cheia de provas e diários. Por isso, sem tempo para postar algo legal por aqui.
Do Jorge.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bob Dylan


Olá!



Nesses dias atribulados de fim de ano, entre as obrigações na escola e a correria normal que todo ano que termina traz consigo, registro que tenho ouvido Bob Dylan à exaustão. Sempre gostei dele, mas agora o estou achando meu ídolo, ao lado do Caetano. Tanto que estou começando a ver um pouco de luz na minha eterna pesquisa para o doutorado. Isso porque decidi que o ano que vem, tento as provas para começá-lo. Adiei em demasia. Por conta do tempo, da dificuldade de ir ao Rio ou a Sampa semanalmente para as aulas. Mas agora o Mestrado em Letras da UFES teve a autorização da Capes para implantar o doutorado. Me animei logo, mas não tinha um projeto em mente.

Não tinha. Mas agora, sinto começar a ser gestada em mim a idéia de trabalhar Dylan e Caetano. Seria uma ampliação da minha dissertação de mestrado (que foi exclusivamente sobre a intertextualidade em Caetano Veloso), incluindo uma análise das interrelações textuais entre as canções dos dois, que, embora pertencendo à tradições musicias e poéticas diversas, são quase irmãos gêmeos, ambos grandes letristas, grandes performers, grandes músicos. É uma idéia que, agora no verão, quero pôr no papel.

E enquanto vou pensando (e ouvindo Dylan), posto aqui a letra de "Jokerman", uma das minhas canções diletas do Bob e que Caetano gravou, nos anos 90. A tradução? Pesquei na net, não encontrei o tradutor, por isso não dou o crédito. Segue:


JOKERMAN (O coringa)


Sobre as águas, jogando seu pão,
Enquanto os olhos do ídolo, com a cabeça de ferro, estão brilhando.
Barcos distantes rumo à bruma seguem seus cursos,
Você nasceu com uma cobra em seus pulsos, enquanto um furacão estava soprando
Liberdade logo ao virar a esquina para você
Mas, com a confiança tão longe, de que servirá?
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
O sol põe-se tão velozmente no céu,
Você se levanta e diz adeus para ninguém.
Tolos correm para lugares onde anjos temem pôr seus pés,
O futuro dos dois, tão cheios de temor, você não tem nenhum.
Mudando mais uma camada de pele,
Mantendo-se a um passo a frente do perseguidor dentro de você.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Você é um homem das montanhas, você pode andar nas nuvens,
Manipulador de multidões, você distorce sonhos.
Você irá para Sodoma e Gomorra,
Mas o que te importa?
Lá ninguém vai querer casar com a sua irmã.
Amigo do mártir, um amigo da mulher que causa vergonha,
Você olha dentro da fornalha escaldante, vê um homem rico sem nome.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Bem, o Livro do Livítico e Deuteronômio,
A lei da selva e do mar são seus únicos professores.
Na fumaça do crepúsculo sobre um corcel lácteo,
Michelangelo realmente poderia ter esculpido sua feição.
Repousando nos prados, longe do espaço turbulento,
Meio adormecido perto das estrelas, com um pequeno cachorro lambendo seu rosto.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
Bem, o fuzileiro aproxima-se silenciosamente dos doentes e aleijados,
O pregador busca o mesmo, quem chegará lá primeiro é incerto.
Cassetetes e canhões de água, gás lacrimejante, cadeados,
Coquetéis molotov e pedras atrás de cada cortina,
Juízes pérfidos morrendo nas teias que eles mesmos tecem,
É só uma questão de tempo até que a noite se instale.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.
É um mundo sombrio, céus são escorregadiamente cinzentos,
Uma mulher acabou de dar à luz a um príncipe hoje e o vestiu de escarlate.
Ele irá pôr o padre no bolso, pôr a lâmina para aquecer,
Tirem as crianças sem mães da rua
E coloquem-nas aos pés de uma meretriz.
Oh, Curinga, você sabe o que ele quer,
Oh, Curinga, você não demonstra nenhuma reação.
Curinga dance para a melodia do rouxinol,
Pássaro, voe alto ao luar
Oh, oh, oh, Curinga.

(Bob Dylan, 1983)

Do Jorge.