domingo, 12 de julho de 2009

Leitura de férias




Olá!




Esse blog é como uma centelha, uma fagulha que ora se apaga, ora se (re)acende. Não vivo em função dele, mas sei que ele vive em mim. Porque o que aqui está resvala de mim, do que sou, dos meus apontamentos sobre o mundo, sobretudo de como o vejo e de como o sinto.


Então, vale aqui falar dos planos para esta semana (curtíssima) de recesso escolar. Uma pausa da escola (e das leituras pedagógicas, históricas, teóricas) e me propus ler, nesta semana, dois autores há muito desejados, mas ambos sem tempo para mim (eu, na verdade, para eles): Thomas Mann e Giorgios Seferis. Devo dizer que a escolha não foi planejada, mas casual. Melhor, planejada pelo acaso. Na semana anterior, dando uma bisbilhotada na biblioteca da escola, encontrei, numa estante meio escondida, a Biblioteca do Prêmio Nobel. Foi uma dupla surpresa. A primeira, por econtrar lá os dois autores, que eu há muito esperava reler. E, a segunda, por ter me reencontrado com essa coleção, que fazia parte da biblioteca da escola em que fiz o Ensino Médio. Foi através dela que li, pela primeira vez, Mann e Seferis, além de Salvatore Quasímodo, Gabriela Mistral, T. S. Eliot, André Gide, Saint-John Perse, entre tantos outros "nóbeis" autores. Foi assim que decido meu roteiro de leituras de férias. Escolhi Mann ("A morte em Veneza") e Seferis ("Poemas") quase que imediatamente.


Comecei por Seferis, no sábado (ontem). Trata-se de uma leitura rápida, como é a leitura de poemas. Mas sempre atenta, reflexiva. A primeira parte do livro, "Mitohistorima" ("Mitologia", em português) é uma volta à história grega, pela ótica do mar, dos grandes navegadores, desde o mítico Ulisses e seus argonautas, atés os marinheiros comuns gregos, que fazem a glória do comércio marítimo daquele país. Seferis tem uma dicção muito clara, direta como a fala, mas, ao mesmo tempo, plena de lirismo, embebida de história e de sentimento gregos. Reproduzo um dos poemas:




XII


Três rochedos, alguns pinheiros calcinados, uma ermida.
Um pouco mais alto
Repete-se a paisagem:
Três rochedos em forma de quebra-vento, carcomidos,
Alguns pinheiros calcionados negros e amarelos,
Um casebre quadrado perdido na cal,
E mais alto, ainda, várias vezes,
Reitera-se a paisagem, em degraus
Até o horizonte, até o céu do poente.

Aqui, lançamos âncora para reparar nossos remos partidos,
Matar a sede, dormir.
O mar que nos magoou, o mar profundo e insondável,
Desdobra sua calma sem limites.
Aqui, entre as pedras do lastro, encontramos uma moeda de prata
E a jogamos aos dados.
O mais jovem ganhou, não o vimos mais.

Tornamos a partir com os remos quebrados.




O poema poderia tratar-se tanto dos gregos mitologicos, como de marinheiros de nossa época. Há de comum entre eles (e entre nós, gregos ou não) o chamado do mar, mais forte, como uma imperiosa voz que se exige ouvir. E obedecer. Trata-se do mar, enfim, e de sua potência.


Volto, agora, a Seferis. Posto depois novas impressões sobre ele e sobre Mann.




Do Jorge.
PS: As fotos são de Thomans Mann, em sua bliblioteca, na década de 40, e Seferis, na Grécia, sua terra natal, no fim da vida.

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