sábado, 3 de outubro de 2009

Maria Adelaide Amaral






















Olá!





"Luísa". Se for grafado assim, fica sendo o título do romance de Maria Adelaide Amaral, que ando lendo esses dias. Pode ser também o título daquela canção maravilhosa do Tom Jobim, que amo. Luísa. Se for gravado assim, fica sendo um nome, um nome próprio, de uma mulher comum, chamada Luísa. E penso que o romance "Luísa" tem essa duplicidade: sendo uma obra de ficção, fica também sendo um "roman à cléf", já que a personagem título é (não se pode negar) um eco da própria Maria Adelaide.


Sempre gostei muito do texto dela, que é muito conhecida como autora de novelas e minisséries de televisão. Apesar disso, poucos sabem que ela é uma autora extraordinária. Seu texto é leve e ágil, mas também lírico e repleto pequenas picadas de beleza. Assim é "Luísa", que ganhou o Jabuti de 1982. Trata-se da história de uma jornalista que, no romance, não tem voz. Quer dizer, sua história é contada através de cinco pontos-de-vistas diferentes: Raul, seu amigo homossexual, Rogério, chefe da redação e que nutre uma paixão violente e não-realizada por ela, Sérgio, colega na revista e seu amante, Marga, a amiga e militante política, e Mário, o marido que ela acaba abandonando. O livro é, portanto, um jogo de vozes, bem naquele estilo de "As ondas", da Virginia Woolf. Só que não tão ilegível, não tão mítico e simbólico. As vozes dos cinco se entrelaçam e não se contradizem, para compor um retrato de corpo inteiro da nossa Luísa, o retrato de uma mulher que ama e desama, que vive a plenitude dos anos de chumbo, que se envolve em greves e que luta pelos direitos trabalhistas, que pinta quadros e se interessa por livros e filosofia. Uma brasileira, enfim. E isso belamente conduzido pelo texto de Maria Adelaide, que escreve, ao mesmo tempo, com a pena clara da jornalista que ela foi por anos, e com a alma de mulher, que ela é e que transfere para esse belo romance.




Do Jorge.

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