quinta-feira, 15 de maio de 2008

Mário de Sá-Carneiro

Pessoal,


Vida tensa a desse nosso amigo Mário. Atormentado pelo fato de ser poeta (não é fácil, sei), gordinho, meio sem jeito na vida... o jeito foi vestir seu melhor terno e beber cinco frascos de arsênico. Só 26 anos. A poesia dele é pontuada pela angústia, pelas muitas faces dela, a existencial, a amorosa, a identitária, principalmente pela angústia essencial: a de viver. Mas hoje, consultando meus oráculos, eis que me cai às mãos um seu poema curioso, que fala da morte de uma maneira inusitada para ele, um poeta que sempre foi trágico e sério. Uma nota destoante, um nota um pouco cômica. Mas a morte está ali, insolente e definitiva. E ela sabia que teria de ir ao encontro dela. O poema é "fim":


fim


Quando eu morrer batam em latas,

rompam aos saltos e aos pinotes,

façam estalar no ar chicotes,

chamem palhaços e acrobatas!


Que o meu caixão vá sobre um burro

ajaezado à andaluza...

A um morto nada se recusa,

e eu quero por força ir de burro!


(1915)

É um poema curioso. Intenso e curioso. Simbólico, dos signos da morte e da exigência da morte. É o meu oráculo de hoje.

Do Jorge.


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