quinta-feira, 24 de junho de 2010

Silviano Santiago


Olá!



Tenho lido às pampas esta semana! Explico: como tenho tido picos de hipertensão, meu médico achou por bem me deixar de molho em casa. Concedeu-me uma salutar licença médica, longe de fortes emoções. Traquilidade, eis o que me receitou ele. Aproveitei, claro, para ficar em casa e colocar algumas leituras em dia. Depois de "O reencontro", sobre o qual falei ontem, hoje devorei um livro recém comprado num sebo da internet, que há tempos vinha correndo atrás: "Crescendo durante a guerra numa província ultramarina", do Silviano Santiago. Sempre fui um leitor costumaz do Santiago, tanto da sua obra literária, quanto de sua obra teórica, que me serviu de aporte muitas vezes durante os textos construídos no mestrado. Escrevi, inclusive, uma monografia, orientada pelo professor Luís Eustáquio Soares, sobre "Histórias mal contadas", um dos livros de contos do Silviano. É, pois, um autor que eu frequento sempre que posso.

Aproveitei, pois, a folga para lê-lo. E o li de uma sentada, como geralmente faço com os livros de poemas. Não que se trate de um livro fácil, nada disso. A poesia de Silviano Santiago, a exemplo de "Cheiro forte", é densa e sempre reflexiva. No caso de "Crescendo...", o autor faz um revisão das décadas de 30 e 40, período em que crescia num Brasil polarizado entre o entreguismo e a influência norte-americana e o nacionalismo e a penetração do ideário comunista. Ou seja, trata-se de uma obra que dialoga com a História, mas que também cria um discurso meta-histórico, já que se propõe a ser uma visão particular, individual, de alguém que cresceu numa província ultramarina em tempos históricos tão bicudos. Tudo, no entanto, é narrado com a pena fina da ironia, com um certo olhar que vai além das lentes azuis (do entreguismo) ou vermelhas (do nacionalismo), para ficar num delicioso entre-lugar do discurso. De onde se tem, sempre, uma visão ampla e aberta das coisas. E é a que Silviano apresenta, uma visão polissêmica desses anos tão frequentemente polarizados que o autor procura costruir neste pequeno grande livro.

Como se pode ler em "Pica-pau amarelo", poema do livro e que fica também como o texto de hoje:


PICA-PAU AMARELO


Emília luta
contra Tarzã.
Lobato
contra o entreguismo.
Uma questão
de patriotismo.


O que que é isso,
meu Deus?
(p. 51)



Do Jorge.

Um comentário:

Anônimo disse...

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