segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Viver é perigoso demais


Olá!



Não, não é minha frase-título deste post. O leitor mais atento saberá que retirei-a das páginas mágicas de "Grande sertão: veredas", do Guimarães Rosa. É que hoje senti esse perigo me rondar, como um miasma perigosíssimo: senti o medo de sentir medo de viver. Apreensivo, tentei realizar as tarefas do dia, dei minhas aulas, fiz minhas leituras, planejei o dia de amanhã. E o medo por detrás. Quando cheguei em casa, entre apreensivo e esperançoso, fui consultar meus oráculos. Parei ante a estante, fechei os olhos e, como num transe, escolhi um livro ao léu. Caiu-me às mãos Virginia Woolf, a autora inglesa que matou-se por não suportar "a beleza do mundo". O livro? "Mrs. Dalloway", com aquela maravilhosa rosa vermelha na capa. Abri, como quem abre a Bíblia à cata de um tema para uma platéia ávida de sabedoria. Juro, tive que me apoiar na borda da estante para não cair quando li o que li. Quando digo a vocês que os livros são como oráculos, Tirésias nesses tempos mais que cegos, é disso que falo. Hoje, a profetiza Virginia disse:


"Passava como a lâmina lânguida de uma navalha através de todas as coisas; e ao mesmo tempo ficava do lado de fora, o olhar. Tinha sensação permanente, enquanto olhava para os táxis, de estar longe, muito longe, no mar, e, sozinha, tivera sensação de que era muito, muito perigoso viver um só dia que fosse". (p. 12)



Embora a sentença seja dura, me consolei. Relaxei o corpo. Como disse Woolf, como disse Guimarães Rosa, viver é perigoso. Nos resta correr o risco, viver o perigo. E atravessá-la, a vida.



Do Jorge.

2 comentários:

Ana Wants Revenge disse...

Cheguei aqui goolgando Risiveis Amores de Kundera, estava procurando alguns trechos pra viajar na saudade da obra dele durante o trabalho rsrs. :)

Muitas coisas legais.
Tô te seguindo, beijos!
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Jorge Verly disse...

Obrigado, Ana!
Gosto muito de escrever, espero que se sinta sempre à vontade aqui e volte sempre!

Beijos,

Do Jorge.