terça-feira, 13 de julho de 2010

Leituras semanais


Olá!



Acabei de ler 0 romance "Uma história de família", do Silviano Santiago. Belo livro, curto e cerebral, como é a ficção do Santiago. Dele, também comprei "Heranças", que está aqui sobre mesa esperando a vez. Como também estão "A caverna" e "Todos os nomes", do Saramago, "O relógio Belisário", do José J. Veiga, "O livros dos sonhos", do Borges... tantas leituras. No entanto, acabei dando prioridade a outro livro nesse esse meio de semana: "O esqueleto na lago verde".

Um livro de não-ficção, digo logo. Trata-se de uma enorme reportagem do então repórter especial do Jornal do Brasil, Antonio Callado (que veio, como sabem, a se tornar um dos nossos maiores ficcionistas), sobre o desaparecimento do explorador inglês Percy Fawcett no Alto Xingu, ocorrido em 1925, em plena floresta amazônica, quando este buscava vestígios de uma cidade perdida que julgava se encontrar naquelas paragens. Callado refez a viagem do explorador em 1952, da qual resultou este livro extraordinário (e olha que estou nas primeiras páginas). Mas é daquelas leituras magnéticas, posso dizer, daquelas que não dá para largar o livro.

Só o início já diz muito:




"Inocência também pega. Logo que a gente chega ao Posto Culuene, da Fundação Brasil Central, o choque demasiado bruto paralisa o raciocínio. A gente só sabe que saiu da cidade de São Paulo, num aparelho monomotor, umas sete horas antes: como é possível que agora, à beira daquele rio, homens e mulheres estranhos, mongoloides, inteiramente nus, cerquem o avião?


Mas inocência pega. Ao cabo de duas horas não estamos mais empenhados em fingir que não reparamos na nudez dos índios. Passamos, ao contrário, a encará-la com naturalidade. E a vitória foi puramente da inocência deles, da candura e falta de malícia deles. De toda a nossa indumentária — das botas ao chapéu — os índios e as índias só prezam uma coisa: a camisa, que protege dos mosquitos. Tudo mais que usamos é, portanto, incompreensível para eles. Mas dizendo “incompreensível” dizemos mal. Por que haveriam eles de tentar compreender a razão de andarmos com
tantos panos em cima da pele? Acaso perguntam ao poraquê por que dá choques ou à onça por que tem pelo? O que não lhes ocorrerá jamais é que tenhamos motivos psicológicos para usar roupa, ou que, por termos começado um dia a usar roupa, não a possamos mais abandonar por motivos psicológicos.

O índio (a menos que já tenha sido civilizado) não faz perguntas embaraçosas pelo simples fato de não conhecer o embaraço. É uma criança. Ainda vive aquém do Bem e do Mal."

(p.13-14)



Escrevo mais quando terminar.



Do Jorge.



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