domingo, 7 de agosto de 2011

Caetano, 69



Olá!

Como não poderia deixar de ser, hoje saúdo o gênio Caetano Veloso, pelos seus 69 anos de idade. É incrível a força que esse leonino tem, atravessando já quase sete décadas, quatro delas dedicados ao ofício de compor e cantar maravilhosas obras, pontos altíssimos do nosso cancioneiro popular. Ainda ontem vi, pelo Youtube, a entrevista que Caê concedeu ao Jô Soares esta semana, penso que na terça-feira. A mesma verve de sempre, cabeça brilhante, críticas ferrenhas à tudo e a todos (ao Lula e ao photoshop, por exemplo). Também a mesma beleza vocal, que não amansou ao longo dos tempos. Tempos que Caetano acompanha com avidez e interesse, sempre decodificando tudo, desconstruindo tudo, reconstruindo também. Ativo como nunca, revelou ao entrevistador que sairia dali para ir ao estúdio acabar de mixar o disco novo da Gal, para o qual compôs todas as canções, além de produzir e dirigir. Que mais dizer? Muito. E seria pouco. Por isso o post é curtinho, só mesmo para demarcar essa já longa admiração, talvez devoção mesmo, que tenho por esse santo-amarense, Sr. Caetano Emanuel Viana Telles Veloso, que hoje completa 69 anos. É, citando Jean-Luc Godard e também Eucanaã Ferraz, "duas ou três coisas que sei dele".

Gosto de tudo dele, então escolho a canção que hoje calha com a ocasião, "Oração ao tempo". Caetano a fez nos idos de 79, ainda jovem. Mas, sabe, acho que ele já pensava no hoje. Porque é o que ele vem fazendo, um acordo com o tempo, do qual ele ganha vitalidade e sabedoria e ao qual ele retribui com beleza e poesia. Deleitem-se:

ORAÇÃO AO TEMPO


És um senhor tão bonito

quanto a cara do meu filho

Tempo, tempo, tempo, tempo

vou te fazer um pedido

Tempo, tempo, tempo, tempo

Compositor de destinos

tambor de todos os ritmos

Tempo, tempo, tempo, tempo,

Entro num acordo contigo

Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo

e pareceres contínuo

Tempo, tempo, tempo, tempo

És um dos deuses mais lindos

Tempo, tempo, tempo, tempo

Que sejas ainda mais vivo

No som do meu estribilho

Tempo, tempo, tempo, tempo

Ouve bem o que te digo

Tempo, tempo, tempo, tempo

Peço-te o prazer legítimo

e o movimento preciso

Tempo, tempo, tempo, tempo

Quando o tempo for propício

Tempo, tempo, tempo, tempo

De modo que o meu espírito

ganhe um brilho definido

Tempo, tempo, tempo, tempo

E eu espalhe benefícios

Tempo, tempo, tempo, tempo

O que usaremos pra isso

fica guardado em sigilo

Tempo, tempo, tempo, tempo

Apenas contigo e migo

Tempo, tempo, tempo, tempo

E quando eu tiver saído

para fora do ter círculo

Tempo, tempo, tempo, tempo

Não serei, nem terás sido

Tempo, tempo, tempo, tempo

Ainda assim acredito

ser possível reunirmo-nos

Tempo, tempo, tempo, tempo,

Num outro nível de vínculo

Tempo, tempo, tempo, tempo,

Portanto peço-te aquilo

e te ofereço elogios

Tempo, tempo, tempo, tempo

Nas rimas do meu estilo

Tempo, tempo, tempo, tempo

(IN: Cinema transcendental, 1979)

Do Jorge.

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