domingo, 20 de janeiro de 2013

De olhos bem abertos



Olá!


Marguerite Yourcenar, a grande autora francesa, escreveu em seus Cahiers a respeito do processo de criação do romance "Memórias de Adriano": "aqueles que teriam preferido um 'Diário de Adriano' às memórias dele esquecem que o homem de ação raramente mantém um diário. É sempre mais tarde, do fundo de um período de inatividade, que ele recorda, anota e, na maioria das vezes se surpreende". E, penso agora, não é esta a tônica também da minha vida, deste blog, que não se furta de ser uma espécie de diário pós-moderno? Nunca registrar o dia-a-dia em si, mas as reverberações do que houve, do que aconteceu. Recordar, mais que tentar reviver.

Falando ainda de Yourcenar e seu "Memórias de Adriano", nunca me esqueço das linhas finais do romance, quando o imperador Adriano, prestes a fazer a sua passagem, reflete sobre a vida, assim em seu limiar. É bem o espírito do que escrevi acima. Nunca viver nas minúcias do cotidiano, mas na plenitude dela, da vida, dos momentos em que se olha para trás e se diz, de olhos bem abertos: Vivi.


"Pequena alma, alma terna e inconstante, companheira do meu corpo, de que foste hóspede, vais descer àqueles lugares pálidos, duros e nus, onde deverás renunciar aos jogos de outrora. Por um momento ainda contemplemos juntos os lugares familiares, os objetos que nunca mais veremos... Esforcemo-nos por entrar na morte de olhos abertos..." 
(Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, p. 287)


Do Jorge.

Um comentário:

Soliane disse...

Concordo quando diz que recordar é mais do que tentar reviver...recordar é trazer a tona experiências e vivências que contribuíram em grande medida para a construção do nosso eu. Recordar é ter a certeza de que vivemos! E o que é a nossa vida, senão uma sucessão de recordações??? Um abraço.