sábado, 19 de janeiro de 2013

Uma arte



Olá!

Dei-me conta de que, no post anterior não há o texto do dia. Pecado mortal, melhor confessar. Mas, como para tudo há redenção (o grande deleite de se cometer pecados é pensar nela!), vou me redimir em grande estilo: Elizabeth Bishop, essa genial poeta norte-americana que viveu no Brasil nos anos 50 e que é dona de uma obra tão original quanto potente. Dela, posto seu texto mais conhecido (e, certamente, mais belo): "Uma arte":



UMA ARTE



A arte de perder não é nenhum mistério


tantas coisas contém em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério.



Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subseqüente

da viagem não feita. Nada disso é sério.


Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. Um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.

Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.


Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)

não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser um mistério

por muito que pareça (escreve) muito sério.

(Elizabeth Bishop. In: "Poemas escolhidos", 2012)



Do Jorge.

Um comentário:

Jorge Verly disse...

Olá!

Dei-me conta de que, no post anterior não há o texto do dia. Pecado mortal, melhor confessar. Mas, como para tudo há redenção (o grande deleite de se cometer pecados é pensar nela!), vou me redimir em grande estilo: Elizabeth Bishop, essa genial poeta norte-americana que viveu no Brasil nos anos 50 e que é dona de uma obra tão original quanto potente. Dela, posto seu texto mais conhecido (e, certamente, mais belo): "Uma arte":


UMA ARTE



A arte de perder não é nenhum mistério

tantas coisas contém em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério.



Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subseqüente

da viagem não feita. Nada disso é sério.


Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. Um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.

Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.


Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)

não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser um mistério

por muito que pareça (escreve) muito sério.

(Elizabeth Bishop. In: "Poemas escolhidos", 2012)



Do Jorge.