segunda-feira, 18 de julho de 2011

O poeta Guimarães Rosa




Olá!







É evidente que o título deste post poderia ser referir perfeitamente à qualquer dos livros de prosa de João Guimarães Rosa. E quem há de negar que o romance "Grande Sertão: veredas" ou os contos "A terceira margem do rio", "O recado do morro" e "A hora e a vez de Augusto Matraga" não são eivados de poesia? No entanto, não é à sua prosa que me refiro. Falo hoje exclusivamente de seus poemas. À muitos espantará esta afirmação, já que poucos sabem que o primeiro livro de Rosa foi "Magma", coletânea de poemas que ganhou, nada mais, nada menos, o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, em 1936. Curiosamente, ele só veio à luz em 1997, quando recebeu a primeira (e bem cuidada, com ilustrações de Poty) edição, pela Nova Fronteira. Guimarães Rosa nunca quis publicar o livro em vida. Talvez por considerá-lo tão distante da ficção que erigiu em seguida, tão inovadora e tão lírica, alcançando certamente alguns dos pontos mais altos de nossa literatura. O que não ofusca a beleza de "Magma". Nele estão contidos poemas curtos e repletos de lirismo, mas também de ironia, de observação da natureza, de reflexão filosófica e, por que não, de confissões amorosas. Também estão já presentes, embora em menor grau, um dos motes geradores da prosa rosiana: o sertão. Em textos como "A gruta do Maquiné", "Paisagem" e "Maleita" aparecem já a descrição do sertão e de sua gente, de sua paisagem e de seu falar particular, que tanto foram explorados pelo autor em seus contos, novelas e em "Grande sertão: veredas", romance-mural desta geografia tão brasileira e tão universal.





De "Magma", escolhi o texto de hoje, parte da seção "Poemas". São pequenos textos em que o poeta canta a natureza, os insetos, a dança e o amor. Eis, poranto, um deles, "Pudor estoico":







PUDOR ESTOICO





Acuado entre brasas

um escorpião volve o dardo

e faz hara-kiri.



(p. 72)






Não é de uma beleza e, ao mesmo tempo, de uma ironia maravilhosa este poema? Por ele e pelos outros é que vale muito ler "Magma", este exercício raro e cuidadoso de poesia de um dos nossos maiores prosadores.




Do Jorge.

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