quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Adélia está de volta


Olá!



Li uma notícia na internet que me deixou em alfa: a poeta Adélia Prado vai lançar um livro novo agora em agosto, pela Record (a editora, não a tv, pelo amor!). Trata-se de "Campo de névoa", o primeiro livro de inéditas da autora desde "Oráculos de Maio", lançado em 1999. Há algum tempo, escrevi um post aqui com a pergunta, "Onde onda Adélia Prado?", e agora, eis a resposta. Fiquei louco de felicidade e logo corri às estantes, buscando um texto dela para postar aqui, como poema do dia, enquanto não sai o livro novo. Abri e eis o que me disse o oráculo:



A FORMALÍSTICA



O poeta cerebral tomou seu café sem açúcar
e foi para o gabinete concentrar-se.
Seu lápis é um bisturi
que ele afia na pedra,
na pedra calcinada das palavras,
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,
o efeito respeitoso que produz
seu trato com o dicionário.
Faz três horas que estuma as musas.
O dia arde. Seu prepúcio coça.
Daqui a pouco já começam a fosforecer coisas no mato.
A serva de Deus sai de sua cela à noite
e caminha na estrada,
passeia porque Deus quis passear
e ela caminha.
O jovem poeta,
fedendo a suicídio e glória,
rouba de todos nós e nem assina:
"Deus é impecável".
As rãs pulam sobressaltadas
e o pelejador não entende,
quer escrever as coisas com as palavras.

(IN: "Poesia reunida", p. 376)



Beleza, não? Acho genial essa idéia de que as coisas não são escritas com as palavras. Porque, de verdade, não são.




Do Jorge.

Um comentário:

Neide Barros disse...

Adélia está de volta minha gente.