sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A duração do dia


Olá!



Acabo de fechar, maravilhado, as páginas do novo livro de Adélia Prado, "A duração do dia". Posso dizer que foi uma experiência poética e mística, a um só tempo - e quem é leitor da Adélia sabe bem que, na poesia dela, essas duas convivem num conluio santo e belo. Não sou um religioso praticante, mas tenho uma vivência com o sagrado. E essa vivência vem, muitas vezes, da leitura, seja de poesia, seja da própria Bíblia, também ela repleta de beleza poética - e o que é, por exemplo, o Livro de Jó, se não um extraordinário poema sobre a experiência da dor humana?

E com Adélia Prado, refaço essa ligação, me religo ao alto, ao divino. Ela, mais uma vez, me conectou com o que há de Deus em cada um de nós, me fez ver como Ele nos espreita, como ele está em cada fragmento da nossa rica vivência neste plano. Porque foi a voz Dele que escutei através dela, ela que O filtra por sua experiência de poeta e de mulher, não tendo pudores em apresentá-Lo seja pela beleza da flor, seja pelo gozo do corpo. Porque, como ela costuma dizer, vida e experiência mística são uma só coisa, animal e anïma. São indissociáveis. Se espraiam por toda a nossa vida. Estão presentes em toda a duração do dia.

Como texto do dia, posto um poema do livro, pleno de beleza:




MAIS POTENTE QUE HORMÔNIOS


Falei sem me dar conta
de que falava coisa teosófica:
Tudo o que eu peço Deus me dá.
Desde sempre vivi na eternidade.
Poeta velho é como o Rei Davi,
donzelas são escolhidas
para lhe aquecer os ossos.
Todas o querem, ainda que, incendiadas,
só lhe restem palavras.
(p. 52)




Do Jorge.

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