domingo, 1 de agosto de 2010

Boa Esperança do Espírito Santo


Olá!



Carlos Drummond de Andrade escreveu, nostálgico, naquele que é um de seus poemas mais conhecidos (e mais pungentes), "Confidência do Itabirano": "Itabira é só um retrado na parede, / mas como dói!". Esse poema sempre me comoveu, por se tratar da palavra sincera de um poeta que, a despeito de toda a fama conseguida e da certeza de construir uma obra que alçou a perfeição, volta o seu olhar para trás, para a província, o lugar de onde veio. O olhar de quem reconhece que é, "principalmente, Itabirano".

A verdade é que todos viemos de algum lugar. Mesmo que estejamos em Nova York, Roma, Paris, São Paulo ou mesmo São Mateus, trazemos conosco as raízes, como árvores deslocadas, às vezes à força, mas que carregam consigo o signo original, a raiz pregada ao tronco.

E quão maravilhoso para mim foi descobrir, esta semana, encravado no meio do livro "Transpaixão", do poeta Waldo Motta, esperancense como eu, e que faz um sucesso danado por aí, o poema "Boa Esperança do Espírito Santo". Foi como um tapa na cara, uma sacudela na espinha, um bafejo forte de ar, que me trouxesse de volta o cheiro da minha terra. Que está logo ali, a 90 km de São Mateus, mas que, pelos caminhos que nos leva a vida, vai amarelando, como um retrato velho (como aquele na parede, ô Drummond), diluído pela distância. E pela ausência. Estou sempre lá, é certo, minha família (outro elo original) está lá, mas eu não estou mais lá, cotidianamente, vivendo nela. Não respiro mais aquele ar (puro, límpido como é o ar de nossa terra) todos os dias, não piso mais aquele chão tão caro como o chão da minha própria infância. Daí a beleza daquele poema. Eu o li em voz alta, com a voz clara, para mim e Mary. Senti, ao final, o nosso suspiro, carregado de recordações, indo fundo na memória, indo parar lá naquele pedaço de terra no mundo, o nosso lar, "Boa Esperança do Espírito Santo":



Boa Esperança, dom
que me coube e partilho.
Embutido em teu nome,
descobri o meu destino:
combater a própria morte
e o seu reino de mentiras.

Norte espírito-santense,
Boa Esperança, aqui
meu segredo se desvenda:
quem eu sou e a que vim.

(Waldo Motta, "Transpaixão", p. 46)




Do Jorge.
P.S.: A foto? Pedra da Botelha, símbolo de Boa Esperança. Não é o Everest, sei. Mas tem a mesma beleza, a mesma que ele o tem para quem vive no Himalaia. A mesma que tem para mim a Botelha, signo da minha terra.

2 comentários:

Neide Barros disse...

Me emocionei. Pq tbm me trava a garganta a mesma frase do Drummond!Tds nós temos uma itabira...
bjo

Jorge Verly disse...

Sim, sempre pensei assim. Todos nós
carregamos nossa "Itabira" pessoal.
É um carma. Um belo carma.

Beijos,

Do Jorge.